Dermatoses Alérgicas Felinas


Para discutirmos sobre doenças de pele alérgicas em gatos devemos no momento da consulta dermatológica abordar nossos tutores de uma forma diferenciada, a final nossos mascotes felinos merecem essa dedicação diferenciada não é mesmo? 

Um gato não é um cão pequeno!

Os felinos são animais que "escondem" seus problemas dos donos. Quem é dono de gato entende exatamente como isso ocorre. Varias patologias felinas tem seu diagnóstico tardio justamente devido a esse comportamento, e isso pode prejudicar no tratamento de doenças sistêmicas dificultando a cura dos nossos pacientes. É muito importante que os tutores estejam sempre atentos a qualquer alteração que seja feita na sua moradia, como por exemplo a troca de lugar dos moveis, vasilhas de comida, água ou até mesmo a caixinha sanitária. Seu comportamento se diferente de um cão assim como seu sistema interno. Alterações nesse comportamento pode fazer com que o animal desenvolva alterações de caráter psicológico podendo desenvolver lesões de pele primárias ou secundárias se infecções estiverem presentes.

As principais dermatoses alérgicas felinas relacionadas a desordens de hipersensibilidade podem ser divididas em dermatites miliares, presente na dermatite alérgica a pulgas (DAP), alopecias auto induzidas, prurido de cabeça e pescoço e as dermatites relacionadas ao complexo granuloma eosinofílico, associadas à hipersensibilidade alimentar e dermatite atópica felina.


Quando abordamos um paciente felino devemos mudar o questionamento principal "Ele coça?" que fazemos nos cães para "Seu gato se lambe?" Pois eles podem se coçar ou se lamber. O prurido continua sendo o principal sintoma da doença alérgica em gatos assim como nos cães.

O termo "dermatite atópica felina" (DAF) tem sido questionado por autores como Foster (2005) e colaboradores e conforme a literatura ("Veterinary Allergy", 2014) o termo passa a ser referido como "feline atopic-like disease" e não dermatite atópica propriamente dita, pois ainda não se sabe extamente se há uma disfunção imunológica ou se a doença ocorre devido fatores externos. Para a hipersensibilidade alimentar sugere-se o termo reações cutâneas adversas ao alimento (RCAA) nos felinos, pelo mesmo fato.


Uma predisposição familiar ter sido observada por alguns autores em gatos da raça Abissínio sugerindo ser uma raça predisposta a desenvolverem a DAF. A Maioria dos gatos com hipersensibilidade parecem exibir os primeiros sinais clínicos antes dos 3 anos de idade, todavia, na literatura está descrita uma faixa etária mais ampla. Não existe qualquer referência que suporte uma predisposição sexual da DAF, no entanto um recente estudo sugeriu uma maior frequência de dermatites hipersensíveis não provocadas por pulgas em fêmeas.

Gatos com RCAA e/ou DAF usualmente apresentam prurido moderado a intenso, contudo, o prurido pode não ser óbvio para o dono, particularmente em animais que apresentam alopecia não inflamatória e alguns gatos com sinais de doença respiratória. Nestes casos, outras evidências de prurido podem ser encontradas, como vômitos de bolas de pêlo, pêlos nas fezes, tufos de pêlo nos locais mais frequentados pelo gato, pêlo nos dentes. No exame de tricograma revela-se um pêlo quebrado e cortado, sugerindo que o ato de lamber e mastigar sejam a causa da tonsura pilosa.

Os padrões de lesões da doença atópica felina envolvem as 4 dermatites ditas anteriormente:

A dermatite miliar é caracterizada por pápulas-crostas que usualmente se desenvolvem em face e região dorsal. As lesões primárias consistem por pequenas pápulas cobertas por uma crosta amarela ou amarronzada. A dermatite miliar geralmente está associada com outras lesões faciais e/ou alopecia.

dermatite miliar secundária a picada de pulga
dermatite miliar secundária a picada de pulga

O prurido de pescoço e cabeça por sua vez se refere a alterações eritematosas e papulares na face e no pescoço na dermatite não alérgica a pulgas. Podem estar presentes escoriações, alopecia, crostas, dermatite miliar e distúrbios seborreicos.

prurido de pescoço
prurido de pescoço

A alopecia auto-induzida é caracterizada por alterações simétricas geralmente em áreas de flancos, abdômen e dorso causada por lambedura excessiva.

alopecia auto-induzida
alopecia auto-induzida

O complexo granuloma eosinófilico (CGE) apresenta-se como diferentes lesões clínicas de pele e em muitos casos as lesões podem ser severas e causar graus variáveis de prurido e/ou dor, podendo ainda tornar-se crônicas e recorrentes. As apresentações clínicas conhecidas do CGE incluem a úlcera indolente (UI), placa eosinofílica (PA) e o granuloma eosinofílico (GE). A maioria dos autores reconhece o CGE como uma manifestação de doença alérgica felina, sendo as causas mais comuns a hipersensibilidade a pulga, a RCAA e DAF, mas etiologias alternativas também têm sido investigadas, sugerindo o possível envolvimento, em alguns casos, de agentes virais, infecções bacterianas, fúngicas e parasitológicas, reações a antígenos e desregulação com base genética ou idiopática.

A úlcera indolente é uma lesão ulcerativa a erosiva bilateral ou unilateral em região de lábio superior. As placas eosinofílicas são lesões intensamente pruriginosas, exsudativas, eritematosas e em forma relevo que podem se desenvolver em abdômen, região inguinal, medial e caudal da coxa e menos frequente em face e pescoço. Os granulomas eosinofílicos podem se apresentam de forma linear, difusa a nodular, e lesões firmes ocorrem em cavidade oral, áreas interdigitais, queixo e membros (granuloma linear).

A patogenia do CGE corresponde a um padrão de reatividade cutânea com ação de mastócitos e eosinófilos. Os eosinófilos são células do sistema imunológico que estão envolvidos na resposta inflamatória a antígenos, especialmente parasitas e representam a maior fonte de resposta de mediadores inflamatórios associados a reações de hipersensibilidade do tipo I. A base da patogenia está na resposta inapropriada dos eosinófilos a uma variedade de estímulos, produzindo reações cutâneas.

Em gatos com placas eosinofílicas, as células T normais regulatórias e secretoras tendem a aumentar assim como quimiocinas de ativação e regulação tímica. Essas quimiocinas são produzidas por vários tipos de células e induzem a quimiotaxia e ativação dos eosinófilos, células T de memória e monócitos. As quimiocinas induzem a sua própria produção de queratinócitos e estimula reação inflamatória Th2. Os eosinófilos são células predominantes no infiltrado inflamatório de gatos alérgicos, e em gatos com DAF com dermatite miliar esses células são indicadores específicos para as reações de hipersensibilidade mais ainda que os mastócitos associados a hipersensibilidade em cães com dermatite atópica.

O trauma na pele pela lambedura e coceira são sinais marcantes na dermatite alérgica e podem facilitar a penetração de alérgenos. A prevenção do auto trauma cutâneo induz a regressão das lesões de pele e fundamenta a importância do trauma na patogenia das doenças alérgicas felinas. É desconhecido quais aeroalérgenos podem alcançar e penetrar na superfície da pele de gatos sob circunstâncias naturais. Embora ácaros de poeira doméstica ou alérgenos tenham sido encontrados em amostras de poeira de áreas no ambiente familiar dos gatos, sua presença na pele felina não foi descrita.

Em um estudo usando teste adaptado para atopia (APT) em 6 gatos atópicos e um grupo controle, 3 gatos atópicos mostraram reações positivas às 24 e/ou 48 horas com concentrações relevantes de alérgenos. Uma reação macroscopicamente positiva contra Dermatophagoides farinae (Fel d 1) e D. pteronyssinus foi apresentada contendo infiltrado celular comparável ao infiltrado encontrado na pele lesional de gatos atópicos. Esse infiltrado foi caracterizado por imunohistoquimica pela presença de células IL-4, CD4, CD3, MHC class II, e CD1a. Foi mostrado que gatos com lesões de pele ulceradas por dermatites eosinofílicas podem reagir a Fel d 1. Dessa forma cria-se uma hipótese que alérgenos fel d 1 podem funcionar como autoalergenos através de exposição aberrante do sistema imune a esse alérgeno.

A IgE antígeno especifico na dermatite alérgica felina

O papel da IgE antígeno especifico na imunopatogênese das doenças alérgicas felinas permanece não esclarecido tal como a especificidade e a sensibilidade dos reagentes utilizados para detectar tais IgE. Além disso, a eficácia estimada da imunoterapia é baseada em estudos abertos, o que dificulta a sua avaliação, especialmente porque a doença pode desaparecer e recidivar constantemente.

Existe a hipótese que a pobre correlação entre o soro contendo IgE e a degranulação de mastócitos possa ser explicada pela heterogeneidade da IgE felina. Para alguns autores, os valores de IgE específicas de alérgenos nos gatos normais não foram diferentes daqueles observados nos gatos suspeitos de dermatite atópica felina.

Nos estudos laboratoriais, a presença do IgE antígeno específico encontrado no soro não correlaciona com a presença dos sinais clínicos da dermatite atópica em gatos. Não foi encontrado diferenças significativas entre os níveis de IgE contra ácaros da poeira doméstica no soro de gatos atópicos e gatos clinicamente normais. Os níveis de IgG felina especifico contra poeira domestica foram significativamente maiores em gatos alérgicos comparados com gatos sem doença dermatológica ou gatos com prurido indefinido mas os níveis não foram diferentes de gatos normais.

Com base nestas informações existe a proposta de alteração do termo dermatite atópica felina para síndrome dermatite alérgica felina (SDAF) e novos estudos com felinos devem ser realizados de forma a abranger dados maiores que poderão explicar melhor se há uma alteracão da respota imune nas dermatoses felinas assim como acontece nos cães.

"Exames complementares para diagnósticos diferenciais devem ser feitos de forma a descartar dermatoses parasitárias, infecciosas, auto imunes ou neoplásicas. A terapia e a eficácia do tratamento dependerá de ambas as partes, tanto do veterinário quanto do seu tutor. Se seu gato apresenta alguma dessas alterações de pele e principalmente se ele se coça muito não deixe de procurar um dermatologista veterinário que irá informa-los qual o melhor tratamento. Contate-nos!"

Referências Bibliográficas

Sousa, R.M.C.; Dermatite Atópica Felina, 2011.

Foster A.P.; Roosje P. J; Update on Feline Immunoglobulin E (IgE) and diagnostic recomendations for atopy. In August JR, Consultations in Feline Internal Medicine, 5th editon, Elsevier Saunders 2005; 229-238.

Noli, C.; Foster, A.; Rosenkrantz, W. Pathogenesis - immunopathogenis, 205-210; Clinical presentations and specificity of feline manisfestation of cutaneous allergies, 211-216; Veterinary Allergy, 2014.

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