Estudo de Caso clínico - Displasia Epidermal do Westie

Em um estudo publicado na revista Veterinary Dermatology sobre displasia epidérmica em cães da raça West Highland White Terrier, foi discutido a questão da doença ser uma alteração congênita de desordem cutânea ou estar associada a uma reação a infecção severa por Malassezia.

Dois cães da raça West, uma fêmea e um macho apresentavam lesões típicas de displasia epidérmica. Esta condição cutânea foi primeiramente descrita por Scott & Miller em 1989 e é caracterizada por uma dermatite crônica com presença de seborreia, liquenificação e prurido. É presumido que a doença ocorra devido uma desordem inerente de queratinização que afeta os West geralmente conhecida como "Seborréia do Westie" ou "Síndrome do Westie tatu" em função do aspecto da pele desses animais se assemelhar a pele de um tatu. O prognóstico da doença é reservado, pois a recorrência de infecção por Malassezia e o processo de deterioração da condição da pele ocorre frequentemente.

Confrontando outros achados, no estudo não foram encontrados sinais clínicos ou histológicos da displasia epidérmica após quatro meses de tratamento, portanto, uma desordem congênita de queratinização era improvável.

O tratamento antifúngico de escolha foi o cetaconazol na dose inicial de 10mg a cada 12hr e posteriormente a cada 24hr, banhos diários com xampus de clorexidine e miconazol a 2%, controle parasitário com fipronil e na fêmea foi utilizado cloxacillin 25mg/kg a cada 8hr pra controle da piodermite superficial e ambos receberam uma dieta hipoalergênica baseada em peixe e tapioca. Testes intradermicos foram feitos para ácaros de poeira doméstica e a fêmea reagiu positivamente aos alérgenos da Malassezia, os quais também foram testados. Dessa forrma o macho recebeu vacina com os alérgenos específicos dos ácaros (imovet - CAC) a que reagiu assim como a fêmea, porém, essa última recebeu separadamente outra solução contendo extratos de malassezia.

A repilação cutânea e o controle do prurido foram efetivos de forma gradativa e após onze meses de tratamento tópico e imunoterapia mensalmente restabeleceu-se a condição normal da pele sem recorrência de infecção por malassezia, pressumindo então que o dignóstico final em ambos cães é a dermatite atópica com infecção secundária e piodermite superficial na fêmea.

Nesse relato de caso, a imunoterapia para hipersensibilidade à malassezia pareceu ter sucesso na fêmea avaliada, embora não se saiba se a resposta positiva se deu devido a a eliminação completa dos organismos da malassezia com terapia antifúngica ou devido a imunoterapia alérgeno especifica. Além disso uma investigação é requerida para determinar se a imunoterapia para reação de hipersensibilidade do tipo 1 à malassezia é benéfica. Atualmente não existe extratos de malassezia disponíveis no brasil para protocolos vacinais em cães e portanto essa imunoterapia ainda precisa ser melhor estudada e compreendida.

Os cães West e outras raças parecem ter predileção por infecção por Malassezia secundaria ou a doenças de pele inflamatória primaria. E isso vai de acordo com o estudo feito por Lee Gross et al., onde afirma que doenças de pele crônicas e severas de qualquer etiologia resultam em dermatoses hiperplásicas.

O prurido severo conduz danos excessivos na pele, induzindo hiperplasia epidérmica como mecanismo de auto proteção da pele com intuito de melhorar a ancoragem da epiderme para a derme através do aumento da zona de superfície da membrana basal. Concluiu-se então que a displasia epidérmica do West highland White terrier não é um defeito congênito de queratinização, mas deve ser consequência à reação de hipersensibilidade a infecção severa por Malassezia ou secundaria como resultado da inflamação severa e auto trauma excessivo.

 A causa de base para as infecções recorrentes em grande parte dos cães atendidos nos consultórios é a dermatite atópica. Na maioria deles, a resposta cutânea aos danos físicos e crônicos do prurido e da inflamação é o aumento das camadas da epiderme, fazendo com que a pele do animal se torne uma pele grossa (liquenificada), com coloração escura (hiperpigmentada) e de difícil retorno ao seu aspecto normal e saudável. Nota-se uma inversão da resposta imunológica frente aos alérgenos, fazendo com que células como macrófagos, eosinófilos e o outras como TNF e INFy migrem para a pele atópica, conduzindo a essa liquenificação e a diminuiçao da resposta aos corticosteroides, levando ao quadro cõnico da dermatite atópica em cães.

"Lembramos mais uma vez que o uso abusivo de corticóides pelo médico veterinário ou pelo próprio tutor pode acarretar alterações na pele dos animais e dificultar o diagnóstico da doença de pele e o seu tratamento. Cães que usam corticoides da forma tópica ou sitêmica a longo prazo podem apresentar reações graves como atrofia cutânea devido a degeneração das fibras colágenas fazendo com que os folículos piolosos se dilatem formando "comedos gigantes". A pele fica delgada, alopécica, inflamada e mais pruriginosa. O ciclo vicioso da dermatite atópica crônica. 

A cronicidade das dermatopatias alérgicas devem ter uma atenção maior principalmente devido o desconforto do próprio animal e de seus tutores. Um ambiente onde o seu Pet se coça o tempo inteiro, tem um odor desagradável ou apresenta descamação excessiva ou qualquer outro sinal de doença crônica de pele é totalmente desagradável.

Visto isso, é de extrema importância que cães que apresentarem qualquer sinais semelhantes a esses relatados sejam avaliados por profissionais competentes de forma que o tratamento dermatológico seja recomendado e principalmente seja efetivo. O acompanhamento periódico deve ser feitos de forma que o veterinário possa ter um retorno de seus pacientes e possa avaliar melhor a resposta do tratamento.

Não deixe de fazer uma avaliação dermatológica do seu Pet! Será um prazer atende-los!"

Dra Luciana Lousada

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