Supercrescimento Bacteriano e Fúngico na Pele Felina

Como vimos no post anterior, as doenças de pele felinas seguem um padrão diferentes do que vemos nos cães principalmente no que se refere a patogenia das doenças alérgicas. Nos cães, as alergias tem características clinicas as quais sugerem causas etiológicas diversas. Em contraste, nos gatos, a apresentação alérgica usualmente não segue essa implicação. Vimos também que cães com dermatite atópica e hipersensibilidade alimentar são mais predispostos a desenvolver infecções secundárias na pele.

A prevalência de infecções de pele, em particular o pioderma felino e a dermatite por Malassezia, é relativamente baixa nos gatos se comparado aos cães, em particular, nos gatos alérgicos. Diferenças biológicas entre as espécies na função de barreira epidérmica, microambiente local, e sistema imunológico são sugeridos ser a causa para a relativa resistência às infecções. Existe uma pobre aderência de bactérias do gênero estafilocócico aos corneócitos felinos comparado aos corneócitos em cães ou humanos. Ainda não se sabe se as infecções secundárias favorecem a severidade do prurido e desenvolvimento de lesões de pele em gatos alérgicos.

Dermatite Bacteriana Felina - Etiopatogênese

Em gatos, assim como nos cães e seres humanos, a causa mais comum das infecções bacterianas superficiais de pele são as infecções por staphylococcus spp. Espécies de Staphylococcus coagulase positiva e coagulase negativa foram isoladas da mucosa e da pele de gatos saudáveis e doentes. Staphylococcus pseudintermedius e S. aureus são espécies coagulase positiva mais comumente isoladas de gatos saudáveis e de gatos com lesões de pele. Entretanto a prevalência do S. pseudintermedius em gatos permanece não esclarecida.

Embora a aderência estafilocócica aos corneócitos de gatos saudáveis tenha sido investigado, estudos envolvendo gatos com doença alérgica inflamatória não foram relatados. Outros fatores que podem influenciar a patogênese das infecções de pele felina, como a competência imune do organismo, são desconhecidos. Evidências clinicas sugerem que assim como nos cães a diminuição da resposta imune devido ao uso crônico de glicocorticoides pode resultar em infecções secundarias em gatos alérgicos.

Menos comumente, a Pateurella multocida, que habita a cavidade oral e trato respiratório de gatos, pode habitualmente infectar a pele de gatos alérgicos. Esse microrganismo pode infectar lesões causadas pela higienização excessiva do gato.

Em cães atópicos, as infecções estafilocócicas ocorrem com maior frequência do que nos gatos e as toxinas bacterianas são conhecidas por aumentar a inflamação cutânea e o prurido. O tratamento das infecções mostram melhorar a severidade da dermatite atópica. Na dermatologia felina observações similares são escassas embora um estudo tenha relatado resposta benéfica para gatos com placas eosinofílicas utilizando amoxilina trihidratada com clavulanato de potássio como terapia única. Esse estudo demonstrou que placas eosinofílicas estão frequentemente associadas a infecções bacterianas secundarias sugerindo um papel das infecções bacterianas na patogênese das doenças alérgicas cutâneas em alguns gatos.

placas eosinofílicas
placas eosinofílicas
pioderma felino
pioderma felino
úlcera
úlcera

O potencial das infecções bacterianas na perpetuação de lesões em gatos alérgicos devido ao excesso de higienização deve ser considerado também em todos casos felinos.

Sinais clínicos

Contrariamente ao que acontece nos cães, infecção estafilocócica superficial em gatos raramente se apresenta com características típicas de pústulas e colaretes epidérmicos. As lesões incluem pápulas-crostosas, escoriações, ulcerações, nódulos ou placas ulceradas ou erodidas.

Gatos alérgicos com foliculite bacteriana secundaria podem se apresentar com pápulas-crostosas principalmente em região dorsal, abrangendo padrão de reação conhecido como dermatite miliar (abordado na pagina anterior). As infecções bacterianas são diagnosticadas como lesões cutâneas secundárias a arranhaduras (escoriações ou ulcerações na cabeça e pescoço), lambedura (escoriações abdominais) ou lesões de pele associadas com lesões pruriginosas do complexo granuloma eosinofílico.

Alguns gatos alérgicos podem apresentar paroníquia bacteriana secundaria ao excesso de lambedura nas unhas caraterizados por alopecia, eritema, erosão ou ulceras, e exsudação purulenta. A infecção bacteriana associada a otites externa, embora seja rara em gatos alérgicos, pode ocorrer em alguns felinos.

A maioria dos gatos alérgicos com infecções bacterianas superficiais secundárias a lesões auto induzidas, diferente do que acontece com cães, não demonstram uma melhora significativa no prurido após tratamento antibacteriano único, sugerindo que o prurido é um sinal de desconforto para os felinos. Para Foster (2014), a maioria desses gatos precisam além do tratamento antibacteriano, o uso de anti-inflamatórios para reduzir o prurido e melhorar as lesões de pele.

Dermatite por Malassezia em felinos

O supercrescimento de Malassezia spp., pode ser observado em gatos alérgicos, embora seja menos comum se comparado a cães alérgicos. Isso pode acontecer devido a diferença ou a menor mudanças no microambiente cutâneo secundário na doença alérgicas em gatos comparada aos cães. A Malassezia pachydermatis é a espécie frequentemente isolada da pele, mucosa, ou canal auditivo de gatos saudáveis, outras leveduras do gênero Malassezia, incluindo M. sympodialis, M. globosa, M. furfur e M. nana, também já foram isoladas.

Uma resposta satisfatória ao tratamento antifúngico como terapia única em gatos alérgicos tem sido relatada. Essa observação pode sugerir que a infecção com Malassezia spp. pode ser parte responsável pelo prurido e lesões cutâneas em alguns gatos alérgicos.

O supercrescimento de Malassezia tem sido associado com doenças sistêmicas graves (síndrome paraneoplásica e infecções virais) porém na medicina veterinária uma relação entre infecções virais e dermatite alérgica ainda não foi descrita até a data atual.

Sinais clínicos

A dermatite por Malassezia pode afetar gatos alérgicos de qualquer idade e de ambos os sexos, embora seja mais comum diagnosticado em gatos adultos maduros. As regiões mais acometidos são a face, região ventral do pescoço, abdômen, canal auditivo, sendo sua distribuição paralela às lesões de prurido em gatos alérgicos. Pode haver alopecia, eritema, gordura aderida de cor acastanhada (face), aumento do cerúmen, hiperpigmentação, tonsura pilosa, e escamas foliculares. A hiperpigmentação e liquenificação, contrariamente do que acontece nos cães, raramente são observadas. Esses sinais clínicos podem sugerir que a pele felina responde a inflamação crônica de uma maneira diferente que a pele canina.

Ainda existem poucos estudos em gatos e talvez por isso o diagnóstico de agentes infecciosos como bactérias e leveduras na pele felina seja menor do que acontece na pele canina. A patogenia das dermatoses felinas alérgicas e das doenças infeciosas secundarias ainda se demostra não bem elucidada.

O diagnóstico das infecções bacterianas e fúngicas na pele felina baseia-se no exame citológico de lesões. As amostras devem ser obtidas por esfregaços/ "imprint" no caso de lesões erosivas ou ulceradas e fita adesiva no caso de lesões em regiões menos exsudativas ou de difícil coleta por "imprint" (espaço interdigital, pálpebras, lábios, área perianal) ou por biopsia de pele.

Não há estudos validando a diferença da eficácia com qualquer forma de terapia alérgica imunoespecífica, conjunta ou não à administração de medicamentos. Para a maioria dos gatos alérgicos a medicação simultânea é necessária especialmente durante a indução e na fase de manutenção da imunoterapia. Assim como nos cães com dermatite atópica, o manejo dos sinais clínicos de gatos alérgicos requer consideração cuidadosa das várias opções terapêuticas.

Referências Bibliográficas

Noli, C.; Foster, A.; Rosenkrantz, W. Pathogenesis - immunopathogenis, 205-210; Clinical presentations and specificity of feline manisfestation of cutaneous allergies, 211-216; Veterinary Allergy, 2014.

"O veterinário dermatologista irá avaliar o caso de forma individual e planejar um tratamento adequado e eficaz para o controle da doença alérgica felina e melhoria das infecções secundarias concomitantes.

Se você tem um gatinho que apresenta alguma dessas lesões, venha fazer uma avaliação dermatológica! Será um prazer atendê-los!"

Dra Luciana Sousa Lousada

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